sábado, 9 de julho de 2016

Toshiro Mifune

Era entrar na água e ele deixar  a companhia de umas senhoras com quem conversava para gritar: "Toshiro Mifune".Perguntei para ele por que me chamava pelo nome do grande artista japonês e ele respondeu que era o único que conhecia. Vi que Toshiro Mifune não era japonês, era chinês, mas tinha trabalhado a vida toda no Japão. Isso é só um detalhe. O meu amigo que tinha vários nomes disse que aquelas mulheres com quem praticava natação eram sereias, mas só quando vistas sob a sua ótica, debaixo da água. Todas se tornavam lindas, maravilhosas e, raridade, novas de novo.
Algumas vezes ele agradecia alguém que voltava da Alemanha, por exemplo. Explicou que durante a vida toda exerceu a função de professor em escolas que visam a profissionalização dos estudantes. Deu aula de montagem de rádio. Depois que se aposentou continuou consertando os aparelhos que já não tinham mais peças. O jeito foi recorrer aos viajantes que lhe socorriam trazendo peças que por aqui não se encontram mais. Perguntava de quanto era a despesa, os interlocutores lhe respondiam que não era nada, que as peças trazidas no bolso ou nas malas eram "cortesia". Sei que nessa passagem das fitas de vídeo VHS para os DVDs muitos filmes foram descartados perto de onde nós nadávamos e ele levava para casa até o dia em que descobriu que tratava-se de desenhos da produtora Disney. Mesmo assim ficou com a coleção até lá quando não sei. Não mais o vi. Deixei de frequentar a piscina do Sesc Consolação por uns tempos.
Outro dia parei naquele local para tomar um cafezinho com calda de tapioca. Por uma questão de confusão minha, entrei no elevador que me deixou no mesmo andar da piscina. Olhei para as águas vazias de nadadores, tive a impressão de ouvir sua voz cansada e entrecortada pelo canto das sereias: "Toshiro Mifune, Toshiro Mifune, entra que a água está com ótima temperatura".
                                                         Toshiro Mifune, o grande ator chinês, fez sucesso no Japão