domingo, 19 de outubro de 2014

Samuel Wainer

Eu o vi poucas vezes na redação da Folha de S. Paulo, onde trabalhava nos idos dos anos 1975, a figura de Samuel Wainer não passava em branco, evidentemente, para alguém como eu, que estava praticamente começando na profissão. Imaginava o que se passava por sua cabeça. Foi dono de jornal, construiu um império, coisa que mais tarde deixou registrado em memória no magnífico "Minha razão de viver". Depois, o colega Benício Medeiros, do Rio, relembrou mais episódios, desta vez focados no dia a dia da redação do jornal Última Hora em "A rotativa parou".
Vi S.W., como às vezes assinava na página 2 da Folha, somente com suas iniciais, entrando na sala do diretor Claudio Abramo. Passava por ele sempre calado, pensativo, circunspecto. Contaram que ele passava todos os dias na sala do dono do jornal, seu Frias, a quem entregava as laudas datilografadas contendo sua visão sobre o mundo a partir do Rio de Janeiro, cidade onde viveu e trabalhou a maior parte de sua vida.
Meu colega Nicolau Farah deixou a Folha para editar o Aqui São Paulo dirigida por Samuel Wainer, semanário que durou pouco. Mais tarde conheci sua filha Pink Wainer, mestra no design gráfico.
Ficava imaginando o que se passava por sua cabeça. Samuel Wainer foi dono de jornal, teve poder, influência, brigou com o sempre do contra Carlos Lacerda, arrumou uma penca de inimigos por esses tempos idos e vividos. Acabou escrevendo em um grande jornal à época, claro, só que era empregado, e se limitava a batucar as 40 linhas de 70 toques dando sua visão de mundo a partir dos ares cariocas. Tentava recomeçar sempre, isso era mais do que suficiente para, aos olhos de um repórter como eu, transmitir a ideia verdadeira de que era um grande homem, não importa onde tenha nascido (outro motivo aproveitado por seus adversários), ele foi antes de tudo um brasileiro, um grande brasileiro que amou este País.

  Samuel Wainer, criador de tantos jornais e revistas, entre elas o diário Última Hora