sexta-feira, 3 de abril de 2015

Boris Casoy

Trabalhamos juntos na mesma redação da Folha nos idos de 1975 e na primeira vez que conversarmos lembrei que um amigo com quem havia estudado em Santos, Ivan Camargo, que tinha nascido em Oswaldo Cruz, já haviam sido colegas em rádio. Boris Casoy lembrou, sim, do meu amigo radialista, como ele, de bela voz sonora e de tantos casos vividos por emissoras.
Na época Boris editava a coluna de Política "Painel" e eu trabalhava na editoria de Cidades. Um deputado que chegou à presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo havia feito compra de milhares de calcinhas na zona franca de Manaus e mandado a conta para a Casa que pagou mas, descoberto, o cassou. Meses depois eu o vi comandando uma reunião na zona leste paulistana. Contei para o editor de "Painel" que não se interessou pela nota: "Não bato em quem está no chão", ensinou.
Antes de ir para a redação da Folha que era dirigia por Cláudio Abramo, eu havia trabalhado 6 meses na Agência Folha, no mesmo quarto andar da alameda Barão de Limeira, onde escrevia em laudas com 7 cópias, que eram distribuídas para os jornais do grupo. Tive como colega uma certa Dora Tavares de Lima, mais tarde a melhor colunista de Política segundo Millôr Fernandes, Dora Krammer, com quem, 20 anos mais tarde, jantei em Brasília em sua casa onde conheci o marido Paulo Krammer, professor da Universidade de Brasília e um filho pequeno (mais tarde ela teve outra filha). Boris, já  na função de diretor de redação (substituiu Claudio Abramo), me contou ter incorporado por conta própria o tempo para fins de aposentadoria, generosidade de sua parte a qual agradeci.
Fui embora da Folha e trabalhei em outros jornais. Tentei voltar, 5 anos mais tarde, e procurei o diretor Boris Casoy, que me enrolou por um tempo me recebendo muito bem em sua sala, onde mandava servir água e cafezinho, mas nada de me contratar. Certo dia ele, que estava cercado por jovenzinhos ávidos de poder com seus manuais e outros mandamentos como atribuição de nota para cada reportagem feita, outra para a publicada e outra ainda para o que havia sobrado de material, enfim, uma reengenharia total, me contou que haviam me queimado intencionalmente. Foi assim: "Numa reunião aqui na Folha alguém disse que você havia jogado bomba, enfrentado a ditadura de maneira valente e destemido, mas eu desmenti quem o acusava, disse que você nunca havia participado em luta alguma contra a ditadura, mesmo porque você é e era muito jovem (estávamos em 1984), esse pessoal não sabe o que fala, provavelmente deve ter ouvido falar. Mas fique tranquilo que eu o defendi de todas as acusações que fizeram maldosamente contra você".  Fiz uma brincadeira naquela época, mas que, pensando bem, não faria nunca mais: "Ainda bem que tenho quem me defenda de falsas acusações, ainda bem que tenho amigos como você". Ironizei ao invés de apenas demonstrar gratidão, foi maldade minha. Fazia referência implícita a algo que tem feito muito mal a Boris: a revista O Cruzeiro estampou uma série de fotografias em capa denunciando integrantes do Comando de Caça aos Comunistas - CCC, e no meio deles estava o então estudante do Mackenzie Boris Casoy, fato que ele me disse inúmeras vezes ser uma mentira deslavada, uma falsa acusação.
Boris Casoy é hoje o melhor ancora da TV brasileira, talvez o único, se deu bem, acompanhei sua entrada neste novo meio de comunicação e torço para que ele (que tem 10 anos a mais que eu, contas feitas pelo próprio), faça seus comentários - mesmo não concordando com ele, porque sua opinião manifestada publicamente mostra que ele é, acima de tudo, um homem de coragem. E isso não é uma vergonha.