domingo, 22 de junho de 2014

José Aparecido de Oliveira

Deputado federal por Minas Gerais, cassado pelos militares em 1964, secretário particular do Presidente Jânio Quadros, o jornalista José Aparecido de Oliveira ao ver pela TV o cartola eterno da Fifa João Avelange disse ter grande admiração por esta figura porque aos quase 100 anos de idade percorria o mundo divulgando os esportes e levando o nome do Brasil por todos os rincões possíveis.

Foi o único amigo de Jânio a visita-lo com frequência quando todos os demais fugiram, com a desculpa de sempre, de que não suportavam ver aquela figura outrora tão dinâmica em uma cadeira de rodas depois de sofrer um acidente vascular cerebral.

Tinha amigos por toda a parte do País. Em tempos difíceis ajudou a levantar "O Pasquim" injetando recursos naqueles tempos difíceis. Nunca revelou isso para ninguém. Todo final de ano reunia amigos em seu apartamento na Avenida Atlântica e não faltavam Niemeyer, Millôr, Cony, Chico Caruso e tantos outros intelectuais e artistas.

Alberto Pinto Coelho, atual governador de Minas, é seu sobrinho. O filho José Fernando foi prefeito de Conceição do Mato Dentro e deputado federal pelo Partido Verde, eu o encontrei na Câmara Federal onde fomos tomar um cafezinho.

Frequentador dos salões da elite, uma vez um quatrocentão paulistano lhe perguntou de que família do ramo dos Oliveira ele descendia, lá pelas bandas das Minas Gerais, ao que ele prontamente respondeu: "Sou descendente direto de Nossa Senhora Aparecida".

domingo, 8 de junho de 2014

Fotógrafo filósofo

Dirceu Leme antes de ser repórter fotográfico na "Folha" trabalhou como operário em fábrica. Ao ouvir todos os dias pontualmente às 18h00 a sirene tocar na redação ele dizia que isso acontecia não por acaso, mas para todos perceberem que não havia, a rigor, diferença entre a redação de um jornal e uma metalúrgica. Outro dia ainda ouvi a sirene tocar na redação da 'Folha'. Outra de suas pérolas filosóficas: aconselhava a nunca mexer com o patrimônio sagrado da classe média, o carro: "Pode roubar a mulher do classe média, mas se esbarrar com o carro dele pode ficar certo de que ele ficará uma fera, vai massacrar quem chegar a isso, vai até lhe matar".
Estávamos nas imediações do Teatro de Arena altas horas de madrugada falando sobre a vida quando, de repente, em frente ao bar Redondo duas mulheres se engalfinharam no chão. Uma delas pegou o sapato salto alto e bateu tanto na outra com tanta fúria que o sangue correu no asfalto. Comentário de Dirceu: "Não suporto ver essas cenas, me deixam deprimido".
Era um dos profissionais preferidos por diretores e atores do Arena. Organizou junto com o jornalista e crítico musical José Ramos Tinhorão uma antologia de músicas contando a história de Zumbi dos Palmares para o Teatro de Arena. Tinhorão era, aliás, um de seus ídolos, dono de um texto primoroso e um sábio.
Sempre que saíamos juntos para fazer reportagem sentia que ele não gostava que o apressasse por nada: "A Folha não paga adicional por insalubridade, não vou correr, não vou me enfartar nem tornar meu tempo mais curto por causa disso", se esquivava. Recomendava a leitura da biografia de Jack London e do livro "O tacão de ferro", seu preferido. Lia o que lhe caía em mãos. Era, em suma, além de magnífico profissional da fotografia um grande filósofo.


Uma das paixões de Dirceu Leme, o preferido pelos diretores e atores do Teatro de Arena em SP

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Em busca do tesouro


 
 
Volta e meia Hilton Libos aparecia, depois sumia sem dar explicação nem dizer por onde andava. Eu o conheci na redação da “Folha de S. Paulo” em 1975 e, uma vez, à saída do prédio, apareceu um padre alto, com batina e pastinha de couro, ele pegou sua mão, beijou e pediu humildemente: “Padre, a sua bênção”. Trinta e cinco anos depois, o jornalista Luiz Marcio Caldas Junior o encontrou em missa na igreja dos beneditinos.

Entregava-se de corpo e alma a projetos que nunca sairiam do papel, mas que ele acreditava ao ponto de oferecer a donos de empresa, como Otavio Frias Filho, que o ouviu atentamente explicar como seria uma edição vespertina da “Folha” distribuída nos terminais rodoviários, de trens, metrô e em outros locais de grande concentração popular. No final da explanação ouviu um sonoro “não”, ainda assim ficou em dúvida se iria ou não procurar outros donos de jornais para continuar oferecendo seu projeto.

Mas o que foi uma de suas maiores aventuras talvez tenha sido o da busca de um tesouro perdido nos mares. Leila Alckmin, vidente que seduziu o sonho de alguns governantes paulistas, revelou que em seus sonhos apareceu um baú cheio de ouro nas matas da região compreendida entre Ilhabela, Ubatuba e São Sebastião. Muitos séculos atrás uma escuna comandada por piratas sanguinários teria encalhado nesse local e, antes que fosse saqueada por rivais, um dos malfeitores de capa e espada pulou em um barco e levou consigo o tesouro, que escondeu entre bananeiras e amoreiras.

Hilton Libos contou a história para um fotógrafo e um funcionário do sindicato dos jornalistas do estado de São Paulo e, juntos, foram para o local dito sem muita certeza e precisão do local indicado pela vidente. Ficou por lá em uma cabana como Robinson Crusoé, os dois amigos retornaram às suas atividades por aqui e passaram a descer para o litoral uma vez por mês. Nada de encontrar o tesouro. Um dia ele diz aos dois amigos que precisavam comprar um equipamento caro, sofisticado, que indicaria com mais precisão onde estava o baú cheio de ouro. Investiram uma quantia razoável em dinheiro para a compra de tal aparelho, mas não deu certo. Nada de tesouro.

A aventura em busca do tesouro durou mais de 6 meses previstos inicialmente e se arrastou por mais um tempo, coisa de um ano. Findo do qual o jornalista resolveu voltar para a sua São Paulo querida. Sem dinheiro algum no bolso, encontrou o dono de dezenas de sebos que havia sido gráfico e que lhe deu uma das bancas para trabalhar. Quem foi um de seus clientes? O vice-governador Alberto Goldman, que Hilton Libos fez questão de me apresentar e a autoridade respondeu dizendo que me conhecia há pelo menos algumas décadas. Eu havia feito reportagens denunciando o uso da máquina e nepotismo do político comunista.

Um dia Hilton Libos abandonou a banca de livros usados. Voltou para a redação, onde achava que era o lugar de jornalistas. Mas isso já é outra história, das muitas que viveu o paranaense de sonhos líricos.