segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Ernesto Geisel

 Estava em Brasília, para onde ia invariavelmente todas as semanas como enviado do jornal O Estado de S. Paulo. Cobertura da Constituinte, ou seja, o Congresso se reunia para escrever no que resultou a chamada Constituição Cidadã, de 1988. Parece um tempo distante. Mas, aquele dia prometia porque alguém me avisou que andaria por lá um dos presidentes da ditadura militar, Ernesto Geisel. Ele foi levado ao Congresso pela turma do chamado "Centrão", gente que havia apoiado o presidente José Sarney e que era uma espécie de fiel da balança naquela Casa. Havia gente demais em torno do penúltimo presidente do ciclo militar. Mas como conhecia bem o assessor do senador Marco Maciel, as coisas se tornaram mais fáceis.

Feita a identificação disse ao general Ernesto Geisel: "Presidente, gostaria de conversar com o senhor, falar do seu governo, a meu ver o mais interessante do ciclo militar. Posso ter esperança?". Impávido, no alto de sua experiência e de toda vivência prática, aquele senhor respondeu: "Muito bem, podemos marcar sim, o senhor pode ir à minha residência no Rio de Janeiro?". Respondi que sempre que tinha de ficar mais de um dia no Rio eu me hospedava na casa de um amigo que, por coincidência, morava na mesma rua onde ele vivia, em Copacabana. "Podemos pensar em uma agenda, só que não vai ser entrevista, o senhor irá sem gravador nem papel para anotação. Preciso observar suas ideias, conhecê-lo, fazer um primeiro contato. Creio que nos daremos bem".

Acesso ao presidente Ernesto Geisel não era dos mais difíceis. Mas o primeiro contato acabava de ser feito. Agora era providenciar um horário, dia, viagem, essas coisas. 

Enquanto cobria a Constituinte li, ainda em Brasília, que o presidente Ernesto Geisel havia partido antes do combinado. Coisas da vida.