sábado, 24 de junho de 2023

Viagens

 Eram outros tempos. Andávamos de carro com logotipo do jornal na porta, tínhamos motorista à disposição, alguns ajudavam, poucos atrapalhavam, não tenho queixa. Anos atrás enquanto procurava notícia na fonte, ou seja, quando trabalhava no que muitos jornalistas insistem em chamar de "o outro lado do balcão", ou seja, fazia a comunicação das empresas chegar aos meios tradicionais, fui obrigado por um motorista a sair do carro alugado por emissora de televisão porque, segundo ele me contou, hoje há uma série de exigências para se transportar alguém, aí incluído em muitos casos o seguro de vida. Portanto, nada de intrusos nesses carros. Como o tempo, os carros também mudaram.

A namorada do fotógrafo desembarcou com ele e como naquele domingo provavelmente não tinha nada a fazer, foi dar uma olhada no trabalho de campo de dois repórteres, eu no texto e o meu amigo na imagem. Ouvi dezenas de pessoas sobre determinado assunto. Uma elegante e bela senhora que deveria ter no mínimo o dobro da minha idade ao ouvir que eu era jornalista fez a seguinte observação: "Ah, você deve conhecer vários países, deve viajar sempre. Deve conhecer lugares badalados, me conta um dia como é viver deste jeito. Creio que é preciso ter certo estilo de vida". 

Lembro ter ouvido a gargalhada da namorada do amigo meu que parecia atravessar cada folha de árvore do parque mais famoso do Brasil. Viajar pelo mundo como jornalista? Até hoje nunca tirei um passaporte. Fiquei por aqui mesmo, sem mágoa nem rancor.