sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Guarda Luizinho

Um pouco de humor e descontração no regime militar (1964-1985), o agente de trânsito que fazia exatamente o contrário de um certo coronel Fontenelle, no Rio de Janeiro, que esvaziava os pneus dos carros e chamava os motoristas para briga. No início dos anos 70 do século passado, o PM Luiz Gonzaga Leite, que viria a incorporar ao nome o apelido de Guarda Luizinho no RG desde 1981, começou a trabalhar no semáforo das ruas Coronel Xavier de Toledo com o Viaduto do Chá, onde era a loja de departamentos Mappin. Fazia verdadeiros malabarismos, gesticulava, tinha carinho com as crianças, orientava as gestantes, distribuía sorriso para os aflitos. Dava entrevista. Era uma alegria só.
Guarda Luizinho era querido por todos os pedestres paulistanos que tinham de passar pela agitada rua do centro de São Paulo. Carregava nos bolsos uma pequena caveira de brinquedo, um guia de ruas e bilhetinhos com piadas educativas, tudo para alertar pedestres e motoristas sobre os perigos do trânsito. Instrumentos de trabalho que substituíram os talões de multas e as balas de revólver que ele descarregava ao ir para o trânsito. Houve tentativas de tirá-lo daquele lugar, mas ele sempre conseguia retornar para o mesmo cruzamento, onde ficou por exatos 10 anos.
A jornalista Renata Asp do "MetrôNews" o entrevistou, hoje aposentado, na reserva: "Comecei nas ruas em 1965 e nunca prendi ninguém. Nunca mandei, sempre pedi. Eu advertia, antes de haver a infração para não ter que levar multa. Achava que era melhor educar para a vida todo mundo, num tempo em que não havia ainda consciência e educação".
Guarda Luizinho foi transferido, mas um abaixo-assinado com 75.000 assinaturas pediu sua volta para o mesmo lugar. Ele conta: "Mais de uma vez fui surpreendido pelo secretário da Segurança Pública, coronel Antônio Erasmo Dias. Estava trabalhando no cruzamento e ele me prendeu, dizendo que eu só fazia palhaçada. Uma moça protestou, incitando os pedestres a virar o carro da autoridade. Fui parar na Secretaria junto com os pedestres que me acompanharam, aí me liberaram e voltei para o meu posto".
Hoje, passados tantos anos depois de virar notícia, Guarda Luizinho é um especialista em trânsito. Integrou o Conselho Tutelar, foi comerciante e dá palestras sobre sua área de especialização. Acha que o pedestre vive em perigo nas ruas de São Paulo. Conta que dados oficiais sobre acidentes de trânsito deveriam ser mais exatos, para que se pudesse entender melhor o perigo e pensarmos em novas medidas e novas políticas de segurança.
Guarda Luizinho, como o Guarda Belo, amigo do personagem de desenho animado Zé Coméia, é um protetor dos direitos humanos e talvez, quem sabe até por isso, cumpriu bem a sua função. Um herói da cidade paulistana.