segunda-feira, 18 de maio de 2015

Tavares de Miranda

Bela figura sempre de terno, normalmente escuro, passávamos pela redação da Folha de S. Paulo, anos 75 do século passado, trocávamos algumas palavras, assuntos nada importantes para o maior e mais respeitado colunista social paulistano, Tavares de Miranda. Eu colaborava com o envio de algumas reportagens que fazia especialmente para os jornais Opinião e depois Movimento, ambos da imprensa alternativa, censurados pela ditadura militar.
Uma vez escrevi o que um quatrocentão estava aprontando. Recorri ao tarimbado Zé Tavares, que me deu todo o passado da figura em questão. Por exemplo: um dia, para infernizar a vida de outro milionário, comprou uma caixa de sal de frutas e, de helicóptero, jogou aos poucos na piscina daquele que falava mal de sua vida. Um desperdício e tanto, convenhamos, fazer isso logo em uma piscina no Guarujá. Escrevi a reportagem que passou pelo crivo dos censores que não tinham ideia de quem era o tal quatrocentão paulistano e mostrei a matéria para ele que viu, achou graça e me devolveu ali mesmo, perto de sua mesa. Muitas vezes eu o via selecionando as fotografias que algum fotógrafo havia tirado nas noitadas e madrugadas frias onde tudo era alegria. Uma festa sem fim.
Motoristas da Folha me contavam que às vezes o colunista cochilava e, ao acordar, com o carro amarelo parando repentinamente, fechava a mão e, em punho, colocava para fora do carro aos gritos: "Cretino, safado, mau caráter". Depois, virava para o lado e voltava a dormir.
Lembro de Tarso de Castro assumindo a editoria Ilustrada, com dois diagramadores mostrando o que deveria sair ou permanecer naquele caderno. Ao passar pela página 2 do Tavares de Miranda disse apenas: "Nesta página não mexo, não sou louco..."
Trabalhei muitos anos depois com a filha do Zé Tavares, Ana Tavares de Miranda, responsável pela comunicação do presidente Fernando Henrique Cardoso em seus dois mandatos. Sei que ela hoje reside no Rio de Janeiro.