Bela figura sempre de terno, normalmente escuro, passávamos pela redação da Folha de S. Paulo, anos 75 do século passado, trocávamos algumas palavras, assuntos nada importantes para o maior e mais respeitado colunista social paulistano, Tavares de Miranda. Eu colaborava com o envio de algumas reportagens que fazia especialmente para os jornais Opinião e depois Movimento, ambos da imprensa alternativa, censurados pela ditadura militar.
Uma vez escrevi o que um quatrocentão estava aprontando. Recorri ao tarimbado Zé Tavares, que me deu todo o passado da figura em questão. Por exemplo: um dia, para infernizar a vida de outro milionário, comprou uma caixa de sal de frutas e, de helicóptero, jogou aos poucos na piscina daquele que falava mal de sua vida. Um desperdício e tanto, convenhamos, fazer isso logo em uma piscina no Guarujá. Escrevi a reportagem que passou pelo crivo dos censores que não tinham ideia de quem era o tal quatrocentão paulistano e mostrei a matéria para ele que viu, achou graça e me devolveu ali mesmo, perto de sua mesa. Muitas vezes eu o via selecionando as fotografias que algum fotógrafo havia tirado nas noitadas e madrugadas frias onde tudo era alegria. Uma festa sem fim.
Motoristas da Folha me contavam que às vezes o colunista cochilava e, ao acordar, com o carro amarelo parando repentinamente, fechava a mão e, em punho, colocava para fora do carro aos gritos: "Cretino, safado, mau caráter". Depois, virava para o lado e voltava a dormir.
Lembro de Tarso de Castro assumindo a editoria Ilustrada, com dois diagramadores mostrando o que deveria sair ou permanecer naquele caderno. Ao passar pela página 2 do Tavares de Miranda disse apenas: "Nesta página não mexo, não sou louco..."
Trabalhei muitos anos depois com a filha do Zé Tavares, Ana Tavares de Miranda, responsável pela comunicação do presidente Fernando Henrique Cardoso em seus dois mandatos. Sei que ela hoje reside no Rio de Janeiro.