domingo, 17 de agosto de 2014

Oscar Niemeyer

Doutor Oscar, como o chamava, integrava uma comissão para fazer o Memorial Jânio Quadros no parque do Ibirapuera. Eu fazia parte desta comissão, era o mais novo dos integrantes que tinha ainda José Aparecido de Oliveira, César Arruda Castanho e Rodolfo Konder. Ele marcava as reuniões, principalmente visita aos locais, bem cedo. Isso porque não gostava de viajar de avião, preferia vir de carro do Rio de Janeiro. Quem dirigia era um neto que estudava Arquitetura em Mogi das Cruzes.
Percorríamos o Parque do Ibirapuera, Doutor Oscar Niemeyer dizia não concordar com aquelas casas que davam os fundos para o mais famoso verde da cidade. Mas nada podia fazer. Tudo era questão de dinheiro.
Algumas senhoras que faziam caminhada queriam cumprimentar o mais famoso e querido arquiteto deste país. Ele atendia a todas com  modéstia que o caracterizava.
De repente eis que surge a colega Renata Falzoni, famosa por difundir o uso das bicicletas nesta cidade cheia de carros. Sei que ela é arquiteta. Por isso eu lhe disse: "Adivinha quem é este senhor?". E ela gritou um sonoro palavrão. Doutor Oscar não entendeu. Ela mesma explicou descendo da sua bike: "Nunca ando sem minha máquina fotográfica, hoje deixei em casa, não me perdoo". O grande arquiteto disse que não tinha importância, outra hora eles se encontrariam.
Renata havia perdido seu cachorro. O neto de Oscar Niemeyer a ajudou a procurar o cãozinho, que foi encontrado horas depois.
O Memorial nunca saiu do papel. Pena. Seria mais uma grande obra deste homem que atravessou os 100 anos de vida para um dia fazer parte da História.


 
     Doutor Oscar, um gênio que dá orgulho para todos nós, um dos maiores personagens brasileiros

domingo, 10 de agosto de 2014

Santo Luciano

Em qualquer lugar do País quando nos encontrávamos ele dizia com a simplicidade que o caracterizava: "Você por aqui?". E o encontrava de norte a sul. Viajava de ônibus, de barco ou de avião. O então bispo auxiliar de São Paulo, Dom Luciano Mendes de Almeida, carioca da gema, irmão do educador Cândido Mendes, era ao que me lembro incansável. Participava de reuniões de manhã, de tarde e de noite. Nunca mostrava estar cansado, enfastiado ou mesmo chateado. Certa vez uma freirinha achou que ele estava dormindo. Ledo engano: ele contou a ela tudo o que estava rolando, não havia perdido nem um segundo do que se falava.
Foi o responsável pela liberdade dos padres franceses Aristides e Francisco que, junto com mais 13 posseiros foram presos políticos do último governo militar, de João Figueiredo. Foram a julgamento e saíram antes da Anistia de 1979. Anos mais tarde D. Luciano estava com os sacerdotes em uma livraria e os apresentei ao empresário Fernando Gasparian, que havia editado meu livro sobre o episódio dos precursores do Movimento dos Sem Terra. Eles falaram em francês impecável por horas e horas.
Ajudei a escrever seu único livro publicado e às vezes ele dizia: "Nosso livrinho sobre a Vida está vendendo bem". Quando ocupou a secretaria geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ficou com a campanha da fraternidade em mãos sem saber o que fazer. Meu amigo Palmério Dória, da TV Globo, veiculou o material sem custo para a instituição. D. Luciano pediu que eu o agradecesse em nome da Igreja.
Morava no bairro Belenzinho, na zona leste de São Paulo, e às vezes levava os pobres para dormir em sua casa. D. Paulo Evaristo Arns uma vez o advertiu para que tomasse cuidado com as pessoas, elas podem fazer loucuras quando drogadas. Mas D. Luciano era assim mesmo, não suportava as diferenças.
Hoje soube pelo teólogo Fernando Altemeyer, seu aluno, que há um processo no Vaticano para a canonização de D. Luciano Mendes de Almeida que, em vida foi um santo, agora ao reconhece-lo santo, a Igreja nada mais fará do que chancelar uma realidade palpável de alguém que pregou a paz e o amor quando passou por aqui.

O bispo D. Luciano Mendes de Almeida, presidiu a CNBB e foi bispo auxiliar de D. Paulo Arns.