Não foi uma vez, foram várias intimações a que respondi
perante a Polícia Federal, onde era convocado por ser o responsável pela
sucursal paulista do jornal “Repórter”, editado no Rio de Janeiro. Um advogado
de presos políticos ficava de acompanhar cada depoimento, só que ele nunca
compareceu. O jornal não lhe pagava e ele achava que não tinha a obrigação de defender
ninguém. Tive de me virar sozinho. Isso nos idos dos anos 80 da década passada.
Certa vez ouvi o delegado falar ao telefone para Brasília, de onde
vinham as ordens: “O pessoalzinho do jornal Repórter já está aqui na antessala
para serem interrogados, daqui a pouco começo a ouvir seus depoimentos, mas
pode ficar tranquilo porque se trata de uma gente educada”. Aquele era o bando
de uma só pessoa, no caso, eu.
As perguntas eram as mesmas: por que determinada pauta, como
é que as reportagens foram editadas, por quem, queriam saber se havia alguma intenção por trás
das manchetes, essas coisas.
Depois de lido os depoimentos, devidamente anotados na máquina de escrever pelo
policial, tinha de assinar o documento em nem-sei-mais por quantas vias. Daí
também aparecia em cena novamente o delegado, que me convidava para tomar cafezinho no
bar em frente à sede da Polícia Federal. Descíamos conversando sobre assuntos
dos mais diversos, até opinava sobre política, já que ele estava cansado de
saber que eu era contra a ditadura militar.
Certo dia, vi dezenas de caixas lacradas em uma sala e
perguntei o que os policiais haviam apreendido. Era um lote dos chamados
“catecismos”, revistinhas pornográficas assinadas por um certo Drago,
desenhista que fazia os originais, copiava em máquina Xerox que ele alugava da multinacional
porque na época não vendiam e distribuía ele mesmo nas bancas de jornais. A PF acabou com o negócio. O
assunto valia uma bela pauta. Peguei os dados do desenhista com o escrivão e
fui à sua casa, onde o entrevistei. Valeu uma bela reportagem.
Uma das inúmeras intimações para "prestar esclarecimentos"