A vocação de revolucionário despertou nos
embates da juventude, onde militou na União Nacional dos Estudantes, a UNE.
Concursado na maior universidade brasileira, a USP, assumiu o cargo e, pela
competência, ficou responsável pela impressão de tudo o que era trabalho na
gráfica daquela instituição. O então reitor levou um jornal do Exército para
ser impresso de favor na Universidade, ao que Mestre Jair Borin recusou com um
sonoro “não”. Sorrateiramente o reitor, que certamente tinha amigos influentes
nas Forças Armadas, levantou a ficha do professor e constatou que ele tinha
débito com a justiça militar. Era um “subversivo”. Um dia, quando estava em
sala de aula o professor foi retirado por dois soldados do Exército que serviam
na mesma unidade onde ele se recusou a imprimir o jornal e foi levado para o
Presídio Tiradentes, onde cumpriu pena de 2 anos. Lá dentro havia presos
comuns, então ele deu aula para os analfabetos, a grande maioria. Depois disso,
não teve mais emprego em jornal.
Estávamos no ano de 1975 quando o conheci na Folha de S.
Paulo, onde trabalhamos juntos. Ele estava ali porque teve o aval de um colega
nosso muito bem relacionado com o dono do jornal, um certo Eduardo Suplicy que andava de moto, que
pediu para Octavio Frias de Oliveira que empregasse o ex-preso político,
repórter de Economia dos bons.
Uma vez o encontrei em um bar da Praça da República, ele
estava com a esposa. Ao tomarmos cafezinho ele lembrou que tinha exatos dez
anos a mais que eu. Também me levou, em seu carro, à redação do jornal
alternativo “Movimento”, onde me esperava o diretor Raimundo Pereira, e a
partir daí passei a colaborar com mais frequência no semanário e sempre recebi
pelos trabalhos, é bom ressaltar, nunca me foi pedido trabalho voluntário e sem
remuneração apesar de toda dificuldade financeira em se manter um jornal de
oposição.
Cruzei com Jair Borin no Vale do Ribeira em reportagem sobre
conflito armado de terras. Mais tarde, já nos anos 80 do século passado, ele me
convidou para trabalhar na assessoria de comunicação da Ceagesp, subordinada à
secretaria estadual da Agricultura, onde ele comandava o departamento de
imprensa, agora em mãos de Franco Montoro, depois de uma ditadura de 21 anos.
Anos mais tarde, de volta à Universidade, candidatou-se a
reitor da USP, perdeu embora tivesse trabalhado bem, tinha o voto do pessoal
mais humilde daquela instituição, só não ganhou da elite que comanda aquela
universidade há mais tempo e conhece bem os truques eleitorais.
Jair Borin merecia da USP ter seu nome em um dos prédios, é
mais do que merecido por seu valor, competência e coragem.