O tio da minha infância gostava de pegar passarinho. Armado
com sua gaiola, presa na garupa da bicicleta, ele ia para o trabalho todas as
manhãs pensando no bichinho que ia pegar com alçapão, às vezes com um visgo que
imobilizava os pezinhos das belezinhas que, com seu canto, muitas vezes acorda
os seres humanos, cada vez mais complicados, tanto que reclamam deles. Imagina
implicar com o canto dos pássaros. Tinha uma coleção desses seres alados, todos
engaiolados e pendurados por um prego na imensa parede de madeira no sítio do
meu avô. O tempo passou.
Hoje meu tio abandonou seu maior vício – não creio que
tivesse outros problemas em sua vida simples -, acho que bastava este. Vive no
meio de passarinhos livres e soltos, que vem visitá-lo à beira da Represa
Billings, no ABC não de Castro Alves como queria Jorge Amado, mas das lutas
metalúrgicas que entraram para a História, liderados, nos anos 70 do século XX,
por um ferramenteiro que ocupou a presidência da República por dois mandatos.
Manoel de Barros, grande poeta, em visitas pantaneiras em
tempos idos, disse para o amigo Guimarães Rosa: “O canto desse pássaro diminui
a manhã”. Rosa tinha uma sede anormal por frases com ave: “Me olhou sentado na
frase”, escreveu Barros.
É preciso dizer mais alguma coisa?