quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Madame Satã, Templo da Cultura Paulistana

Wilson José, seminarista, ator amador, pegou um de seus inúmeros irmãos, William, mais duas amigas e dedicou todo seu esforço na construção do que inicialmente era para ser um restaurante. O quarteto achou uma antiga construção na Bela Vista, o popular Bixiga, no centro de São Paulo, datada de 1936 e acabou tornando o Madame Satã em um templo da cultura alternativa paulistana. Era o ano de 1983, fim da ditadura militar, a descoberta da Aids, o começo da era da informática e a queda do Muro de Berlim. Diziam que a situação era punk, mas na noite nada melhor do que um rock. O neon vermelho na janela dava a estranha sensação de que o próprio personagem a quem Wilson teve ideia de homenagear estivesse por ali, em pessoa. Tinha gárgulas e labaredas na fachada.
Acontecia de tudo naquele espaço. Em meio a balada tinha gente pintando quadro, fazendo performance, projetando filme e o que mais desse na telha. A pista no subsolo fez história porque a iluminação parca não conseguia trazer nem dava para ver um ambiente novo no meio daquilo tudo que estava acontecendo, em um todo esfumaçado (o cigarro ainda não era visto como vilão que é hoje) e diziam que todo mundo podia soltar suas cobras e demais feras. Quer dizer, Wilson José introduziu assim o conceito de casa noturna com pista de dança e pequeno palco para apresentação sempre voltada para performance de artistas plásticos, atores e dançarinos.
Músicos diziam que o Madame Satã era sua segunda casa. Havia festas monumentais de chegadas e de partidas. Tudo em um ambiente libertário. Havia muito o que fazer, o que dizer, o que conhecer, o que experimentar. Um mundo novo para se descobrir.
Não dá para falar no rock dos anos 80 do século passado sem mencionar a Casa onde se apresentaram os ainda novatos RPM, Titãs, Ira, Cássia Eller, Cazuza e tantos outros ícones daquela época. O mundo dava  a impressão de que,como o tempo,seria eterno, foi o que ouvi do meu amigo Wilson José bem pertinho dali, enquanto trocávamos algumas ideias andando pela Avenida Paulista.