terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Martha Rocha

Em 1954 no suntuoso hotel Quitandinha em Petrópolis (RJ) em meio a tanto reboliço deu-se início ao primeiro concurso oficial de Miss Brasil, que mandaria para os Estados Unidos aquela que concorreria ao título de Miss Universo. No júri, entre outros, o escritor mineiro Fernando Sabino. A representante da Bahia, Martha Rocha, surgiu imponente no palco. Não tinha noção de que se tornaria a partir dali nome de rua, de viaduto, de torta, de carro e até de marchinha carnavalesca. E foi sobre a marchinha que liguei para ela em nossos dias de hoje. Morava em Volta Redonda. Liguei porque fazia pesquisa para o livro do meu amigo Assis Ângelo, pesquisador de Música Popular Brasileira, que escrevia uma obra monumental, a vida do conjunto musical de mais longa trajetória no mundo, segundo o Guiness.
- Martha, você é uma mulher feliz? - disparei a certa altura, depois de ela confirmar baixinho sua idade, coisa que mulher alguma gosta de falar. Em 2016, ano que bate à nossa cara, ela completará 80 anos e, certamente, estará sendo lembrada pela mídia devido ao número redondo da efeméride.
- Sim, sou feliz, muito feliz, ela respondeu.
Conversamos sobre a gravação que ela fez com o conjunto musical de maior duração na história, em que ela fazia uma brincadeira sobre as famosas duas polegadas a mais. Para resumir o que houve naquele ano: Maria Martha Hacker Rocha vinha de Salvador ostentando o título de Miss Bahia, um dos grandes orgulhos até hoje daquele Estado que hoje tem como ícones Jorge Amado, Caribé, Caetano Veloso, seus orixás e seus terreiros de candomblé. O citado Fernando Sabino resumiu tudo assim: "Qualquer garoto sabe que a Martha Rocha deixou de ser Miss Universo por causa da grossura de suas coxas". De fato, naquela noite em Petrópolis ela perdeu o título para a norte-americana Miriam Stevenson. Tinha o que se chamou mais tarde de as famosas "duas polegadas a mais".
Pergunto para  Martha Rocha como é ser uma mulher bonita, linda, estonteante, maravilhosa.
- Ah, não sei..., respondeu reticente com modéstia.
Pouco lembrava do disco gravado com o conjunto musical paulista. O pouco que falou transcrevi para o grande livro do Assis Ângelo, "Pasqualin Gundun, os eternos Demônios da Garoa" que saiu em edição restrita, mas que a presidenta Dilma Roussef deveria mandar seu ministro da Cultura distribuir para todas as bibliotecas do Brasil.
Despedi da eterna Miss Brasil e ela disse mais ou menos algo como "se cuida, hein!". Uma adorável, deslumbrante, estonteante e bela criatura essa menina.