domingo, 27 de julho de 2014

Irede Cardoso

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Era mais ou menos como pensava Irede Cardoso, jornalista, com quem trabalhei na "Folha de S. Paulo" nos idos dos anos 70 da década passada. Ela tinha uma preocupação com seus títulos acadêmicos, afinal estava subordinada a um craque, o colega editor Perseu Abramo, um dos criadores da Universidade de Brasília, responsável pela área de Educação.
Foi nessa época que eu confidenciava um problema que tinha com minha mãe, que nunca havia aceito minha saída de casa, chegando algumas vezes a dizer que iria se matar por causa disso, ao que Irede como mãe que era respondia com tranquilidade: "Sua mãe está fazendo chantagem, só isso, esqueça isso dela sofrer com sua ausência, porque isso passa". De fato passou, como eu mesmo contei a ela que me confidenciou que tinha um peso na consciência por ter abandonado dois filhos em sua cidade para se casar com outra pessoa, a quem conheci apresentado por ela quando estava em um barzinho do Largo do Arouche. Anos mais tarde ela se reconciliou com os filhos, já adolescentes, e que a amaram muito.
Durante cobertura de cerco da Polícia Militar aos estudantes levou uns golpes de cassetete no traseiro, mas rapidamente revidou, apontando o dedo para o PM dizendo que ele jamais faria isso em um homem. Depois o salvou de apanhar de um grupo de jornalistas que se solidarizaram com ela.
Além da Folha, onde fez brilhante carreira, chegando a ser editora de uma área em que o jornal apostou, de assuntos ligados à comunidade paulistana, Irede Cardoso trabalhou na TV Mulher da Rede Globo ao lado de Marilia Gabriela, Irene Ravache, Ney Gonçalves Dias, Clodovil e Rose Nogueira. Um time dos melhores profissionais.
Foi vereadora em São Paulo por dez anos, onde criou uma série de confusão por se posicionar em favor da mulher. Era, afinal de contas, uma feminista que ajudou inúmeras mulheres a se destacar como atletas, lideres de classe, gente das mais diversas camadas sociais e profissões. Uma inovadora.

                     A escritora, jornalista, psicóloga, educadora e sempre inquieta Irede Cardoso

domingo, 20 de julho de 2014

O Rei dos Jingles

Todo mundo que viveu a época se lembra dos comerciais da Varig. O responsável era o funcionário Archimedes Messina. Um compositor talentoso que pesquisava o assunto, colocava as coisas em ordem e um belo dia a música estava pronta para ir ao ar. "Estrela brasileira num céu azul/Iluminando de norte a sul/Mensagens de amor e paz/Chegou o natal".
Comercial do café seleto, dos cobertores Parahyba, do programa Silvio Santos: "Agora é hora de alegria/Vamos sorrir e cantar/Do mundo não se leva nada/Vamos sorrir e cantar".
Contou que ao ler o  magnífico livro do Arlindo Silva não havia citação a essa música. Liguei para o querido amigo que me respondeu: "Não está registrado porque eu não sabia disso. Pode ficar sossegado, na próxima edição do livro vou botar essa informação, importante para a História". Não deu tempo. Arlindo Silva partiu sem combinar com a gente.
Muitos músicos, alguns de sucesso, fizeram jingles. Mas ninguém o fez com tanto talento quanto Archimedes Messina, para mim o rei dos jingles. Elifas Andreatto, o grande artista plástico e editor da revista da TAM sonhou um dia em levar ao teatro uma peça com ele, mostrando todas as suas músicas, mas não sei o que deu que o projeto virou água. Pena. Messina contou um segredo que compartilho com todos: me disse que não toca violão, piano, flauta, nada nada. Mas ainda na ativa compõe jingles como poucos.




O grande artista Archimedes Messina, maior compositor de jingles deste país

sexta-feira, 11 de julho de 2014

As curvas de estrada de Santos

Iniciante na profissão, entrou na redação sem cumprimentar ninguém, passou pelo chefe de reportagem Flávio Gazetinha (correspondente da Gazeta Mercantil em Santos), pelo secretário João Sampaio e chegou ao editor-chefe José Alberto Blandy. Estávamos na redação do jornal "Cidade de Santos", do grupo "Folha", anos de chumbo, ditadura militar.
O jovem impetuoso, ainda estudante de jornalismo, chegado há pouco ao diário, teve como tarefa fazer reportagem sobre uma carreta que havia tombado nas curvas da estrada de Santos, como insistia no rádio a tocar a música do "rei" Roberto Carlos.
Sua primeira frase ao chefe: "Assim não dá". Ganhou fôlego e voltou a falar: "Fui cobrir a tragédia de uma carreta, mas não aconteceu nada disso". Perguntado se ele tinha feito alguma anotação, um registro, ele perguntou: "Pra quê? Só vi um fusquinha na serra, parece que houve uma tragédia ou quase". Blandy perguntou se ele havia anotado, checado se havia alguém no tal fusquinha tombado. Nada. "Vocês me mandam cobrir uma tragédia envolvendo uma carreta e o que encontro? Um reles fusquinha. Nem dei bola, fui em frente, dei meia volta e aqui estou".
Para o bem da verdade é bom que se diga que o pequeno foca se candidatou a vereador em Guarujá e foi eleito. Segundo consta foi um bom parlamentar. Na faculdade, que completou à noite, todos brincavam chamando-o sempre de "nobre edil". Ele nem dava bola. Estava acima de tudo e de todos. Seu negócio a partir dali era outro.


As famosas curvas da estrada de Santos, imortalizada por Roberto Carlos em plena ditadura militar