domingo, 10 de agosto de 2014

Santo Luciano

Em qualquer lugar do País quando nos encontrávamos ele dizia com a simplicidade que o caracterizava: "Você por aqui?". E o encontrava de norte a sul. Viajava de ônibus, de barco ou de avião. O então bispo auxiliar de São Paulo, Dom Luciano Mendes de Almeida, carioca da gema, irmão do educador Cândido Mendes, era ao que me lembro incansável. Participava de reuniões de manhã, de tarde e de noite. Nunca mostrava estar cansado, enfastiado ou mesmo chateado. Certa vez uma freirinha achou que ele estava dormindo. Ledo engano: ele contou a ela tudo o que estava rolando, não havia perdido nem um segundo do que se falava.
Foi o responsável pela liberdade dos padres franceses Aristides e Francisco que, junto com mais 13 posseiros foram presos políticos do último governo militar, de João Figueiredo. Foram a julgamento e saíram antes da Anistia de 1979. Anos mais tarde D. Luciano estava com os sacerdotes em uma livraria e os apresentei ao empresário Fernando Gasparian, que havia editado meu livro sobre o episódio dos precursores do Movimento dos Sem Terra. Eles falaram em francês impecável por horas e horas.
Ajudei a escrever seu único livro publicado e às vezes ele dizia: "Nosso livrinho sobre a Vida está vendendo bem". Quando ocupou a secretaria geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ficou com a campanha da fraternidade em mãos sem saber o que fazer. Meu amigo Palmério Dória, da TV Globo, veiculou o material sem custo para a instituição. D. Luciano pediu que eu o agradecesse em nome da Igreja.
Morava no bairro Belenzinho, na zona leste de São Paulo, e às vezes levava os pobres para dormir em sua casa. D. Paulo Evaristo Arns uma vez o advertiu para que tomasse cuidado com as pessoas, elas podem fazer loucuras quando drogadas. Mas D. Luciano era assim mesmo, não suportava as diferenças.
Hoje soube pelo teólogo Fernando Altemeyer, seu aluno, que há um processo no Vaticano para a canonização de D. Luciano Mendes de Almeida que, em vida foi um santo, agora ao reconhece-lo santo, a Igreja nada mais fará do que chancelar uma realidade palpável de alguém que pregou a paz e o amor quando passou por aqui.

O bispo D. Luciano Mendes de Almeida, presidiu a CNBB e foi bispo auxiliar de D. Paulo Arns.

Nenhum comentário:

Postar um comentário