domingo, 9 de novembro de 2014

Bolivianos

Tenho cruzado com certa frequência com bolivianos, a todo dia e a quase toda hora. Moro no centro da cidade de São Paulo, e é onde uma parte deles se concentram. Se bem que tem um bairro onde eles se reúnem nos finais de semana para se encontrar, trocar ideias, falar mal da vida, conversar sobre empregos. Tem uma rádio comunitária, onde cada um manda mensagem para amigos ou parentes que estejam por aqui ou que permaneceram em seu país, bem pertinho e vizinho daqui do nosso Brasil.
Fiz parte do júri que deu prêmio pelo Sindicato dos Jornalistas ao colega Antônio Carlos Fon que escreveu bela reportagem sobre os bolivianos para uma revista de circulação ínfima. Defendi a premiação para fazer justiça a este grande repórter e, ao mesmo tempo, chamar a atenção para este povo espoliado, injustiçado, colocado às margens neste Brasil imenso e trágico.
Esse povo, pelo que tenho conversado vive mal por aqui, mas por lá é pior ainda. Uma moça com quem conversei recentemente em uma viagem de ônibus me disse que ganha um salário dez vezes maior do que quando morava na Bolívia. Quando ela desceu e caminhou meio que envergonhada em direção à favela, achei que estava exagerando. Outros bolivianos confirmaram a extrema pobreza em que viviam.
A maioria dos bolivianos vivem do difícil trabalho da costura. Pedalam máquinas industriais produzindo roupas que são vendidas na elegante e charmosa Oscar Freire como também em lugares bem distantes do comércio popular destes rincões Brasil afora. E vivem em uma miséria de dar dó. São explorados à exaustão, muitas vezes pelos próprios conhecidos e amigos de lá.
O Ministério do Trabalho volta e meia atende a reclamação de algum boliviano mais revoltado com a situação e dá uma dura. O pior ainda neste Estado em que vivemos é a falta absoluta de segurança. Muitos desses trabalhadores têm sido assassinados por nada. Simplesmente porque os ladrões acreditaram que eles tinham um montão de dinheiro no cofre e, ao abrir, acabam decepcionados porque ali não tinha nada.
Esse povo vive uma insegurança de arrepiar. É preciso fazer mais do que o Ministério do Trabalho sazonalmente faz. É preciso estar atento 24 horas para que não se dizimem uma parcela dos bolivianos que aqui vieram por falta de lugar melhor e mais promissor para que saíssem da miserabilidade em que estavam e continuam atolados. Só querem trabalho e dignidade.




Flagrante de uma boliviana em seu local de trabalho e moradia, onde ainda com coragem criam filhos

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