segunda-feira, 1 de junho de 2015

Carlos Rangel

Aprendi muitas lições com o colega Carlos Rangel nos tempos em que trabalhamos juntos na Folha de S. Paulo, a partir de 1975. Tarimbado, ele costumava chamar a todos de "coleguinha", "companheiro", "amiguinho", talvez por não lembrar do nome de quem estava ali à sua frente ou que passavam por ele a toda hora. Alto, agitado, sempre com pressa, carregava uma pequena pasta onde guardava suas anotações e suas lembranças. Teve uma tragédia nos cafezais paranaenses, uma geada pôs tudo abaixo e ele foi enviado para cobrir. Ao chegar na cidade, montou verdadeiro central de informação formado aos poucos e talvez até impensadamente. Ele ficava no hotel e os demais repórteres lhe passavam as informações que ele coletava e transmitia via telefone para a Folha. Ganhou o Prêmio Esso com essa cobertura.
Passou por todas as redações de jornal em São Paulo. Trabalhou no Diário Comércio e Indústria onde foi editor de economia "sem conhecer sequer o abecedário do economês", dizia; Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e revista O Cruzeiro. Ao chegar aos 40 anos de idade, morando no Rio de Janeiro, sua terra natal, para onde voltou em 1979, reuniu algumas de suas reportagens favoritas e ele mesmo publicou um livro que pagou com parte do seu salário, parte da antecipação das férias e do 13o. além do dinheiro do aluguel da casa. Seu filho, de seis anos à época, perguntava o que ele fazia no jornal para se ausentar tanto. Dividia seu tempo entre a redação do jornal e da editoria política do programa "Abertura" da rede Tupi de Televisão, dirigido por Fernando Barbosa Lima que, em seu livro de memória fez elogio a este grande repórter dizendo que ele o ajudou bastante a formatar um dos melhores programas de TV de todos os tempos, que tinha entre outros apresentadores nada menos que Glauber Rocha.
 Carlos Rangel, autor do livro "A hora de enterrar os ossos" de 1978, antologia de suas reportagens

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