domingo, 8 de dezembro de 2013

Manchetes

"Notícias Populares" circulou por 37 anos diariamente. Lançado no dia 15 de outubro de 1963 pelo empresário Herbert Levy para concorrer com o "Última Hora", de Samuel Wainer, passou ao controle do grupo Folha em 65. Revolucionou o jornalismo popular com textos curtos, muitas fotos e manchetes de impacto. A maior delas foi "Nasceu o Diabo em São Paulo", de 1975, sobre um pobre coitado que veio à luz em uma cidade do ABC paulista. O autor da matéria foi meu colega na Folha daqueles tempos, Marco Antônio Montandon. Um rapaz quieto, tímido, que vestia em dias de frio uma capa daquelas imortalizadas por Will Eisner, parecia detetive de quadrinhos. Era um plantão de fim de semana, o chefe o havia designado para descobrir o que havia em certo hospital do ABC onde se falava no nascimento de um bebê com deformações, coisa de chifre, pés tortos, que dava gargalhadas fenomenais para surpresa das enfermeiras e médicos. O resultado foi uma matéria curta, com poucas informações. O chefe pediu para o repórter que reescrevesse a reportagem bem ao seu estilo, com muita imaginação a partir do que ele havia visto, sentido, observado. A reportagem de Montandon chegou à redação do "NP" e seus editores fizeram a festa. Um dia conversávamos a respeito do que é manchete em jornal. Em sua modéstia ele teorizava: "Manchete não se explica, geralmente o editor cisma com algum assunto, dá destaque e aí ela ganha outra dimensão". Estudiosos de jornalismo um dia reunirão as reportagens deste grande talento e quem vai gostar de ler - tenho certeza - será o coleguinha ítalo norte-americano, um certo Gay Talese.

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