sábado, 5 de abril de 2014

Antonio Candido

Estava ocupado com a série de matérias que tinha de fechar na próxima edição do semanário católico "O São Paulo" quando o Professor Antonio Candido entrou na redação e me entregou seu artigo, duas laudas, sem um erro de datilografia. Dei uma olhada e disse que tudo estava bem. Ao que o Mestre disse com grande modéstia: "Se você tiver de cortar algumas linhas, faça-o, e se precisar mudar alguma coisa está autorizado também a fazer". Eu disse aquele clássico "quem sou eu". Seu artigo era um primor de estilo e de sabedoria. Lembro que ele tinha o boné de listras nas mãos.
É daquele patrimônio que deve ser preservado. Pena que os pauteiros estejam mais preocupados com essas celebridades instantâneas e pouco o procuram para saber sua opinião sobre literatura, política e sociedade. Recentemente foi entrevistado pela revista distribuída nas livrarias Saraiva e disse estar apreensivo com a insegurança em que vivemos hoje.
Mas o melhor que vi do grande Mestre foi quando se instaurou um debate acerca da figura de Mario de Andrade na cidade de São Paulo. Não era o escritor modernista que mexeu com o País em 1922. O pesquisador que havia trabalhado no extinto "Jornal da Tarde" se equivocou e forneceu o retrato errado do autor de "Macunaíma". Minha colega Mônica Bergamo, colunista da "Folha" o entrevistou:
"Como o senhor tem tanta certeza de que aquele retrato exibido em público na cidade não era do Mario de Andrade?".
O Professor Antônio Candido respondeu modestamente: "Porque eu conheci Mario de Andrade".

                                                     Antonio Candido, um dos maiores intelectuais do Brasil

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