sexta-feira, 11 de julho de 2014

As curvas de estrada de Santos

Iniciante na profissão, entrou na redação sem cumprimentar ninguém, passou pelo chefe de reportagem Flávio Gazetinha (correspondente da Gazeta Mercantil em Santos), pelo secretário João Sampaio e chegou ao editor-chefe José Alberto Blandy. Estávamos na redação do jornal "Cidade de Santos", do grupo "Folha", anos de chumbo, ditadura militar.
O jovem impetuoso, ainda estudante de jornalismo, chegado há pouco ao diário, teve como tarefa fazer reportagem sobre uma carreta que havia tombado nas curvas da estrada de Santos, como insistia no rádio a tocar a música do "rei" Roberto Carlos.
Sua primeira frase ao chefe: "Assim não dá". Ganhou fôlego e voltou a falar: "Fui cobrir a tragédia de uma carreta, mas não aconteceu nada disso". Perguntado se ele tinha feito alguma anotação, um registro, ele perguntou: "Pra quê? Só vi um fusquinha na serra, parece que houve uma tragédia ou quase". Blandy perguntou se ele havia anotado, checado se havia alguém no tal fusquinha tombado. Nada. "Vocês me mandam cobrir uma tragédia envolvendo uma carreta e o que encontro? Um reles fusquinha. Nem dei bola, fui em frente, dei meia volta e aqui estou".
Para o bem da verdade é bom que se diga que o pequeno foca se candidatou a vereador em Guarujá e foi eleito. Segundo consta foi um bom parlamentar. Na faculdade, que completou à noite, todos brincavam chamando-o sempre de "nobre edil". Ele nem dava bola. Estava acima de tudo e de todos. Seu negócio a partir dali era outro.


As famosas curvas da estrada de Santos, imortalizada por Roberto Carlos em plena ditadura militar

2 comentários:

  1. Chinem, você deve lembrar outra do Nobre Edil. Ele foi cobrir um incêndio na divisa, voltou e, na matéria, tascou: "O prédio, com mais de mil apartamentos..." O editor desconfiou e notou que não havia prédios tão grandes em Santos ou São Vicente. Resposta do Nobre Repórter: "O prédio tem mais de dez andares, o incêndio foi no sexto andar e o número dos apartamentos já estava em seiscentos e tanto..." Não presenciei, mas era o que corria.

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  2. Oi Chinem, não me lembro dessa história em especial, mas tenho saudades do nosso começo de carreira naquela redaçãozinha da Rua do Comércio, perto da Rodoviária e dos chefes citados. Desse que virou vereador, não me lembro.

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