domingo, 14 de dezembro de 2014

Edenilton Lampião

Conheci Edenilton Lampião nas andanças pelas ruas de São Paulo a serviço da Folha, em 1975, ele repórter de O Globo, sucursal paulistana, cruzávamos em diferentes lugares e tínhamos variados assuntos. Só que a preocupação dele não era com os fatos ali diante de nós expostos, mas o universo, suas nuances, variações, o que girava em torno do sol. Tinha uma preocupação de saber se eu estava bem, se estava feliz com o emprego, procurava ligar para os amigos no JB, Globo, Estadão, Abril, em tudo onde pudesse encontrar com amigos que brincavam respondendo: "É lampi/É lampi/Lampi/Lampião/Meu nome é Virgulino/O apelido Lampião". Este paraibano nascido em Rio Tinto tinha alguma semelhança com o lendário bandido sertanejo que andou por terras nordestinas, mas a conversa parava por aí. Andava com óculos redondo tipo John Lennon, de quem era fã. Tocava em um conjunto com seu irmão, também jornalista, Eugênio Araújo, com João Teixeira e outros. Quando precisavam de instrumentos recorriam ao Eduardo Araújo (nada a ver com parentesco).
Um dia meu editor Odon Pereira pediu que indicasse profissional para vaga de copy e como Lampião estava desempregado falei em seu nome. No final do dia perguntei ao Odon se meu amigo havia feito contato, ele respondeu que não só ligou como também já o tinha contratado e que começaria no dia seguinte.
Não lembro se foi o primeiro ou o segundo pagamento que Edenilton recebeu da Folha, só sei que inadvertidamente tirou o dinheiro do bolso e foi alvo de ladrões no Largo do Payssandú. Levou uma surra e ficou em casa por semanas, enfaixado. Fui visita-lo, pelos lados do Ipiranga, conheci a mulher e seus filhos Guilherme e Luís Fernando.
Jards Macalé uma vez passou pela Folha e ficou conversando com Lampião por horas a fio. Também me convidou (e eu não fui) para uma noitada de samba na casa do cantor Cartola que tinha montado restaurante com dona Zica pelos lados da Vila Ré, aqui em São Paulo. Durou pouco.
Lampião deixou a Folha e foi trabalhar na revista Planeta, onde sucedeu Ignácio de Loyola Brandão. Com Paulo Coelho fundou a Ordem da Estrela Bailarina. Dizia ser "contra tudo o que é a favor e a favor de tudo o que é contra".
Um dia recebo ligação do cartunista Jota, que me fala que ele foi atropelado, ao voltar para casa, e que não resistiu aos ferimentos.
Tenho muita saudade do meu amigo Edenilton Lampião que acreditava no poder cósmico, onde certamente está viajando, sempre ligado em todos nós com sua sagacidade e bom coração.

Edenilton Araújo, Lampião, um dos melhores jornalistas deste País sem memória e sem História

Um comentário:

  1. Um dos melhores repórteres que este País conheceu, Edenilton Lampião, é minha grande lembrança. Tive o prazer de ser seu colega, melhor, seu amigo.

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