domingo, 16 de fevereiro de 2014

Esmeraldo Tarquinio

Era seguramente o nosso Martin Luther King. Foi na mesma época que aconteceu. Esmeraldo Tarquínio foi eleito prefeito em voto direto na cidade de Santos. Ano de 1968. Só que estávamos numa ditadura militar e os milicos, claro, não queriam ver à frente da cidade praiana um negro. Um negro combativo. Um negro digno. Antes de ser eleito prefeito ele tinha sido deputado estadual. Ocupava bem os microfones, a TV, os jornais, falava que lutaria até o fim de seus dias para mostrar a todo brasileiro como tinha sido injusto o ato dos militares ao impedirem sua posse. Não havia acusação nenhuma para que ele não assumisse. Não houve, aliás, qualquer tipo de acusação.
Convivi de 1970 a 74 diariamente com Esmeraldo, como alunos que fomos da Faculdade de Comunicação de Santos. Um homem admirável, capaz de levantar grandes questões para discussão em aula.
Mas houve um episódio que mostra muito bem quem era de fato este homem. Meu tio José, motorista de praça, foi assaltado por uma quadrilha e obrigado a dirigir pelo porto de Santos, silencioso, em uma daquelas afrontas à dignidade humana. A quadrilha fez uns roubos e sobrou para o taxista que conduziu os bandidos sob arma de fogo. Preso, meus tios procuraram o advogado Esmeraldo Tarquínio. Sua defesa foi brilhante. Tio José foi absolvido por unanimidade. Meus tios foram pagar o serviço, Esmeraldo disse que não era nada, ele não cobrava quando se tratava de pobres. Um de meus tios vendia flores na feira-livre e passou a entregar flores para a esposa de Esmeraldo todas as semanas.
Tentei falar com ele a respeito, Esmeraldo nunca quis saber de gratidão, achava isso desnecessário.
Era um homem de paz, honrado, sincero, honesto, idealista. Um grande homem.

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