segunda-feira, 2 de junho de 2014

Em busca do tesouro


 
 
Volta e meia Hilton Libos aparecia, depois sumia sem dar explicação nem dizer por onde andava. Eu o conheci na redação da “Folha de S. Paulo” em 1975 e, uma vez, à saída do prédio, apareceu um padre alto, com batina e pastinha de couro, ele pegou sua mão, beijou e pediu humildemente: “Padre, a sua bênção”. Trinta e cinco anos depois, o jornalista Luiz Marcio Caldas Junior o encontrou em missa na igreja dos beneditinos.

Entregava-se de corpo e alma a projetos que nunca sairiam do papel, mas que ele acreditava ao ponto de oferecer a donos de empresa, como Otavio Frias Filho, que o ouviu atentamente explicar como seria uma edição vespertina da “Folha” distribuída nos terminais rodoviários, de trens, metrô e em outros locais de grande concentração popular. No final da explanação ouviu um sonoro “não”, ainda assim ficou em dúvida se iria ou não procurar outros donos de jornais para continuar oferecendo seu projeto.

Mas o que foi uma de suas maiores aventuras talvez tenha sido o da busca de um tesouro perdido nos mares. Leila Alckmin, vidente que seduziu o sonho de alguns governantes paulistas, revelou que em seus sonhos apareceu um baú cheio de ouro nas matas da região compreendida entre Ilhabela, Ubatuba e São Sebastião. Muitos séculos atrás uma escuna comandada por piratas sanguinários teria encalhado nesse local e, antes que fosse saqueada por rivais, um dos malfeitores de capa e espada pulou em um barco e levou consigo o tesouro, que escondeu entre bananeiras e amoreiras.

Hilton Libos contou a história para um fotógrafo e um funcionário do sindicato dos jornalistas do estado de São Paulo e, juntos, foram para o local dito sem muita certeza e precisão do local indicado pela vidente. Ficou por lá em uma cabana como Robinson Crusoé, os dois amigos retornaram às suas atividades por aqui e passaram a descer para o litoral uma vez por mês. Nada de encontrar o tesouro. Um dia ele diz aos dois amigos que precisavam comprar um equipamento caro, sofisticado, que indicaria com mais precisão onde estava o baú cheio de ouro. Investiram uma quantia razoável em dinheiro para a compra de tal aparelho, mas não deu certo. Nada de tesouro.

A aventura em busca do tesouro durou mais de 6 meses previstos inicialmente e se arrastou por mais um tempo, coisa de um ano. Findo do qual o jornalista resolveu voltar para a sua São Paulo querida. Sem dinheiro algum no bolso, encontrou o dono de dezenas de sebos que havia sido gráfico e que lhe deu uma das bancas para trabalhar. Quem foi um de seus clientes? O vice-governador Alberto Goldman, que Hilton Libos fez questão de me apresentar e a autoridade respondeu dizendo que me conhecia há pelo menos algumas décadas. Eu havia feito reportagens denunciando o uso da máquina e nepotismo do político comunista.

Um dia Hilton Libos abandonou a banca de livros usados. Voltou para a redação, onde achava que era o lugar de jornalistas. Mas isso já é outra história, das muitas que viveu o paranaense de sonhos líricos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário