Volta e meia Hilton Libos aparecia, depois sumia sem dar
explicação nem dizer por onde andava. Eu o conheci na redação da “Folha de S.
Paulo” em 1975 e, uma vez, à saída do prédio, apareceu um padre alto, com
batina e pastinha de couro, ele pegou sua mão, beijou e pediu humildemente:
“Padre, a sua bênção”. Trinta e cinco anos depois, o jornalista Luiz Marcio
Caldas Junior o encontrou em missa na igreja dos beneditinos.
Entregava-se de corpo e alma a projetos que nunca sairiam do
papel, mas que ele acreditava ao ponto de oferecer a donos de empresa, como
Otavio Frias Filho, que o ouviu atentamente explicar como seria uma edição
vespertina da “Folha” distribuída nos terminais rodoviários, de trens, metrô e
em outros locais de grande concentração popular. No final da explanação ouviu
um sonoro “não”, ainda assim ficou em dúvida se iria ou não procurar outros
donos de jornais para continuar oferecendo seu projeto.
Mas o que foi uma de suas maiores aventuras talvez tenha
sido o da busca de um tesouro perdido nos mares. Leila Alckmin, vidente que
seduziu o sonho de alguns governantes paulistas, revelou que em seus sonhos
apareceu um baú cheio de ouro nas matas da região compreendida entre Ilhabela,
Ubatuba e São Sebastião. Muitos séculos atrás uma escuna comandada por piratas
sanguinários teria encalhado nesse local e, antes que fosse saqueada por
rivais, um dos malfeitores de capa e espada pulou em um barco e levou consigo o
tesouro, que escondeu entre bananeiras e amoreiras.
Hilton Libos contou a história para um fotógrafo e um
funcionário do sindicato dos jornalistas do estado de São Paulo e, juntos,
foram para o local dito sem muita certeza e precisão do local indicado pela
vidente. Ficou por lá em uma cabana como Robinson Crusoé, os dois amigos
retornaram às suas atividades por aqui e passaram a descer para o litoral uma
vez por mês. Nada de encontrar o tesouro. Um dia ele diz aos dois amigos que
precisavam comprar um equipamento caro, sofisticado, que indicaria com mais
precisão onde estava o baú cheio de ouro. Investiram uma quantia razoável em
dinheiro para a compra de tal aparelho, mas não deu certo. Nada de tesouro.
A aventura em busca do tesouro durou mais de 6 meses previstos
inicialmente e se arrastou por mais um tempo, coisa de um ano. Findo do qual o
jornalista resolveu voltar para a sua São Paulo querida. Sem dinheiro algum no
bolso, encontrou o dono de dezenas de sebos que havia sido gráfico e que lhe
deu uma das bancas para trabalhar. Quem foi um de seus clientes? O
vice-governador Alberto Goldman, que Hilton Libos fez questão de me apresentar
e a autoridade respondeu dizendo que me conhecia há pelo menos algumas décadas.
Eu havia feito reportagens denunciando o uso da máquina e nepotismo do político
comunista.
Um dia Hilton Libos abandonou a banca de livros usados.
Voltou para a redação, onde achava que era o lugar de jornalistas. Mas isso já
é outra história, das muitas que viveu o paranaense de sonhos líricos.
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