domingo, 3 de novembro de 2013

Cláudio Abramo

Foi meu diretor de redação na Folha de S. Paulo, onde comecei a trabalhar em 1975. Vez ou outra cruzávamos na redação, ele conversava, fazia comentários às vezes ácidos sobre determinado assunto ou certas pessoas de quem não gostava. Brandia sua bengala e apontava para os adversários. Assim era Cláudio Abramo, um mito do jornalismo.
Num sábado de plantão fui encarregado de cobrir a visita de dois irmãos donos de revista. Na entrada da sala do dono do jornal, seu Frias, ele aguardava as figuras importantes. Perguntou se eu estava com a carteira no bolso. Disse que sim. "Esconda, esses dois podem roubar". Achei graça e ele sério. "Pode voltar para a redação, deixa que eu escrevo a respeito da visita, faço a nota. Mas não vá direto para o quarto andar, vá ao restaurante, almoce e na volta diga pro seu chefe que eu trato do registro desses dois ilustres".
Lembro que dos novos repórteres tinha carinho especial por mim e por Getúlio Bittencourt. Perguntava que livro estávamos lendo. Eu mostrava, ele dizia ter lido no original. Muitas vezes Getúlio o surpreendia, não só mostrando o livro, mas presenteando-lhe com uma dedicatória.
Foi saído da redação da Folha, ganhou o posto de correspondente de Paris, voltou como comentarista da página 2. 
Muitos e muitos anos depois conheci sua filha Bárbara, hoje horoscopista da Folha, e outro filho que leva seu nome acrescido de Weber, militante de assuntos éticos na política, a quem eu disse ter trabalhado também com sua mãe, a cartunista Wilde no Estadão.
Lembro que nos anos 80 reencontrei Cláudio na condição de comentarista de política da Folha. Era véspera da disputa presidencial entre Tancredo e Maluf e eu editava o jornal do PMDB. Apresentei a ele toda a direção do partido, creio que o grande Cláudio gostou de ver pessoalmente quem ele só tinha contato à distância. Estava feliz, pois estava novamente nas ruas.


Cláudio Abramo, responsável por uma Folha legível, moderna

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