sábado, 23 de novembro de 2013

Índio

Estava no plenário da Câmara dos Deputados, faltava pouco para iniciar a sessão, uma das inúmeras sessões preparatórias para a Constituinte, que resultou na proclamação da atual Constituição, em 1988. Sentado em uma das cadeiras estava o ex-deputado Mário Juruna, um índio xavante eleito em 82 na legenda presidida por Leonel Brizola, que o levou a tiracolo nos comícios no Rio de Janeiro, por onde o líder indígena se elegeu. Foi o primeiro e único índio a ocupar uma cadeira de representante do povo na Câmara Federal até hoje. Não tinha mais mandato mas, mesmo assim, deveria ter algum emprego em Brasília. Circulava com certa desenvoltura no plenário. Os seguranças o cumprimentavam como se ele ainda estivesse exercendo suas funções como representante do povo carioca. Juruna ficou famoso por andar com gravador a tiracolo. Gravava tudo o que lhe prometiam e depois mostrava para a imprensa. Deu entrevista falando que "deputado só defende interesse de banqueiro, deputado só defende interesse de empresário. Deputado só defende interesse de capitalista. É por isso que o Brasil tá desse jeito". Não tive a menor ideia de entrevista-lo. Fui furado por um colega do Jornal do Brasil. Naqueles agitados tempos não havia tempo para arrependimento.

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