domingo, 17 de novembro de 2013

Ilha Grande

O governo militar estava dando sinais de enfraquecimento, Leonel Brizola havia ganho o governo do Rio, alguns jovens organizaram um Festival de Música na Ilha Grande, que funcionava em pleno vapor. Um pessoal arrumou um lugar, nome de preso a quem eu deveria formalmente visitar, dormi na casa de colega jornalista cujo irmão havia passado pelo famoso presídio onde ensinou tática de guerrilha para um grupo de presos comuns, se juntaram e acabou dando no núcleo que passou a dominar os subterrâneos daquele inferno. Na travessia de Angra dos Reis para lá ouvi a história de uma gaúcha que iria visitar seu marido, a quem conhecera por fotografia publicada em fotonovela (que vendia em bancas). Achou o guri bonito e traduziu nos traços dele algo que implorava pelo seu amor. Fez uma visita e depois não o deixou mais. A recepção foi feita por um certo William da Silva, líder do Comando Vermelho, que ofereceu sua cama para eu dormir. Levantou o colchão e me mostrou dezenas de armas como facão, peixeira, espada e uma série de objetos cortantes. À noite ele visitava as celas e conversava com todos os demais presos. No dia seguinte mataram um boi e fizeram churrasco. Nem precisei sair da cela, eles providenciaram o banquete. Um padre da pastoral carcerária surgiu. Dois dias só ouvindo relatos de presos foi o bastante para compor uma reportagem, que não foi feita. O Jornal do Brasil deu nota a respeito do festival. Alguém havia passado os dados de dentro do presídio.

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